Há meses, a população mundial assiste em choque ao avanço do novo coronavírus. Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, localizada nos Estados Unidos (EUA), no fim de abril, o número de casos de coronavírus havia ultrapassado a barreira de três milhões, enquanto as mortes somavam mais de 200 mil em todo o mundo. No Brasil, mais de 60 mil pessoas estão infectadas e mais de quatro mil morreram devido à Covid-19. Como forma de controlar o avanço do novo vírus, uma quarentena de proporção global, foi adotada pelos governos. Aulas foram suspensas, comércios foram fechados, aglomerações foram proibidas e voos cancelados. O jornal americano The New York Times afirma que mais da metade da humanidade está sob algum tipo de isolamento social.
No Brasil, a campanha “Fique em casa” alterou o cotidiano de toda a população. Com a aparição da Covid-19, a forma das pessoas interagirem mudou. E foi na tecnologia, com chamadas de voz e de vídeos e transmissões ao vivo, que elas encontraram a saída para estarem próximas umas das outras. Na área da política, não seria diferente. As votações do Congresso Nacional, por exemplo, estão acontecendo a distância, via internet. Para manter contato com os eleitores, mais do que nunca, os políticos terão que ampliar a sua rede de comunicação no ambiente virtual. Segundo Leandro Duarte, um dos sócios-diretores da agência Aquário Comunicação, em tempos de distanciamento social, o marketing digital será ainda mais decisivo para as campanhas eleitorais deste ano, que irão acontecer, predominantemente, na internet. “O marketing digital, que já tinha papel estratégico na vida política, se tornou fundamental em tempos de pandemia”, comenta o empresário.
Esqueça os palanques, comícios, eventos partidários e o corpo a corpo dos políticos com a população nos bairros das cidades. Após a pandemia da Covid-19, o contato entre candidatos e eleitores deve acontecer de forma diferente, sem tanta proximidade, por meios eletrônicos, impulsionados pelo marketing digital. Segundo a pesquisa TIC Domicílios, em 2018, 70% dos brasileiros utilizaram a internet, em especial as redes sociais, como Instagram, Facebook e YouTube. Não à toa, neste ano, o WhatsApp ultrapassou a casa de dois bilhões de usuários em todo o mundo. No Brasil, o aplicativo foi o mais utilizado em 2019.
Se você ainda tem dúvidas da importância dessa publicidade, faça o seguinte exercício mental. Junte o cenário em que as pessoas estarão mais em casa, a fim de evitar aglomerações, com as redes sociais e seu alto poder de entrega de informações. Adicione o fato de que o marketing digital é capaz de analisar quantas pessoas abriram um e-mail ou ainda qual é a interação (comentários, curtidas e compartilhamentos) de uma postagem no Facebook. Pronto, está explicada a importância da presença de um candidato no meio digital.
De acordo com Luann Medeiros, também sócio-diretor da Aquário, a imagem de um político na internet não é construída do dia para a noite. “Para que isso se concretize, é necessário traçar estratégias junto a uma agência de marketing digital. Dessa forma, o ideal é que este trabalho comece antes mesmo do ano eleitoral”, afirma.
Com o isolamento social decorrente da Covid-19, o jeito de fazer política como nós conhecemos irá desaparecer. É necessário que os candidatos e também as lideranças aprendam, urgentemente, as regras, linguagens e formatos presentes no ambiente digital. Transmissões ao vivo, as conhecidas lives que tanto fazem sucesso na quarentena, ganharão força também nas campanhas eleitorais. A função stories do Instagram possibilitará aos eleitores acompanhar o dia a dia dos candidatos bem como conhecer suas propostas. Já os impulsionamentos de publicações nas redes sociais serão fundamentais para atingir o público-alvo. A plataforma do Facebook, por exemplo, nos dá as opções de escolher o local, idade, interesse e gênero dos internautas que terão acesso a estes posts. Por fim, outro ponto que será essencial é o cadastro de simpatizantes, eles serão os grandes responsáveis por divulgar a imagem do político junto a seus amigos e familiares.
O marco do marketing digital em campanhas eleitorais no Brasil aconteceu em 2018, com a campanha do atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Com apenas oito segundos em cada bloco de propaganda veiculada nas televisões e rádios do país contra cinco minutos e 32 segundos do tucano Geraldo Alckmin, ele conseguiu levar a disputa ao segundo turno, sendo eleito com 55,13% dos votos válidos. Por outro lado, um levantamento realizado pela Socialbakers, empresa global de marketing de mídia social, mostrou que, em janeiro de 2018, Bolsonaro contava com 6,9 milhões de seguidores (Facebook, YouTube, Twitter e Instagram). Em nove meses, esse número saltou para 17,1 milhões e tornou o atual presidente gigante nas redes sociais. Nesse mesmo período, o seu principal rival, Fernando Haddad, passou de 742 mil para apenas 3,4 milhões de seguidores.
Outro dado importante constatado foi a interação dos seguidores com os conteúdos publicados nesses meios digitais. A análise mostra que a performance de Bolsonaro foi muito superior a do candidato petista. Em aproximadamente 300 dias, os posts do atual presidente no Facebook tiveram 92,6 milhões de interações, quase quatro vezes mais que Haddad. Além disso, os vídeos publicados na página de Bolsonaro tiveram 6,4 milhões de visualizações, oito vezes mais que o seu rival. As eleições de 2018 serviram para mostrar que o marketing digital veio para ficar e, em tempos de Covid-19, em que a regra é manter o distanciamento social, será ainda mais fundamental.
Crédito da imagem: José Cruz (Agência Brasil)